quinta-feira, 23 de outubro de 2008

UMA LIÇÃO DE COERÊNCIA


Há homens que lutam um dia, e são bons.
Há outros que lutam um ano, e são melhores.
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Mas há aqueles que lutam toda a vida:
Esses são os indispensáveis.
Bertold Brecht

“50 ANOS DE ECONOMIA E MILITÂNCIA” de Sérgio Ribeiro é uma lição de coerência inseparável do compromisso a que se propôs, incorporando-se na trincheira dos mais fracos, o que inevitavelmente conduziu ao confronto com os prepotentes.

Através das suas mundivivências, num deslizar pela história recente, o autor foca a realidade de vários ângulos usando os mais adequados e sensíveis instrumentos – emoção, conhecimento e acção -- para melhor a interpretar e, conhecendo-a, fazer-lhe frente nos seus aspectos mais gravosos e agressivos. E é com estes sólidos alicerces que esta trempe proporciona (sentimento/saber/prática) que, esforçado, continua a dar o seu contributo no desbravar deste árduo caminho por onde se tece a luta pela libertação do Homem e, natural é, o seu e nosso saudável orgulho, vendo a gota de água da modéstia percorrer meio século de militância num colectivo partidário a que deu sempre o seu melhor: O Partido Comunista Português.

Atentos ao conteúdo e embalados pelo fluir da escrita, confrontados com imagens que nos devolvem recordações, temos que nos esforçar para criar as pausas indispensáveis à reflexão.

Sempre me distanciei do clássico conceito de herói que, num rompante, se excede. A vida é construída de entusiasmo e ponderação, de alegria e dor, de resistências e fraquezas cujos limites desconhecemos. É possível claudicar numa pequena fracção de tempo, e que haja quem atire a primeira pedra, muito difícil é resistir toda a vida. Assistir ao entusiasmo que esmorece é muito mais pungente. Sinto comiseração para com os que, cansados, desistem porque as forças lhes fogem ou as convicções adormecem e quase com eles sofro por lhes ter faltado a água fresca indispensável nas grandes caminhadas.

50 anos de militância com a pertinácia do Sérgio Ribeiro, assumindo as mais variadas tarefas e responsabilidades e granjeando a estima e a consideração dos seus camaradas e dos que com ele têm trabalhado, é por si só de um mérito inestimável.

Vamos vivendo o livro, confrontados com a inesgotável e multifacetada actividade social e profissional do autor e do seu enquadramento político. De vice-presidente da Associação dos Estudantes do ISCEF em 1958 a membro do Comité Central do PCP em 2008, nesta longa viagem, Sérgio Ribeiro manteve-se sempre ligado à acção cultural e desportiva, deu a sua contribuição à vida sindical antes e depois de 25 de Abril. Soubemos ainda, porque nela participou, como nasceu a Siderurgia Nacional e conhecemos algumas das características das personagens que, então, nessa área se movimentavam. Não é possível tudo referir, mas não podemos deixar de mencionar os trabalhos publicados na área profissional, onde se tem evidenciado, e os inumeráveis artigos escritos nos mais variados órgãos de informação, nomeadamente na Vértice e Seara Nova, antes de Abril sob pseudónimo, participação nunca interrompida mas dificultada pelo regresso da censura ideológica. Não nos é possível deixar de mencionar a docência, pela qual nutre especial carinho, a sua actividade no Movimento da Paz e o relevante trabalho como eurodeputado do PCP.

Define-o o facto de sempre ter afirmado não “ser” mas “estar” como deputado no Parlamento Europeu.

Assim, todos os que por lá têm passado ou aqueles a quem é confiada uma responsabilidade política compreendessem e sentissem o significado desta afirmação e a seguissem.





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