quinta-feira, 29 de outubro de 2009

REFER, REN e Cia

PORQUE É QUE OS POBRES NÃO "LAVAM" DINHEIRO?

Sentado, bandeira nacional e da U.E. dando o aval indispensável ao discurso, o senhor ministro, através da TV, banhou-nos de justiça: A partir de agora (porquê só agora?), acabava-se a lavagem de dinheiro. Tal e qual! Não eram renovados mais alvarás para tão higiénica actividade.

Alertou ainda, haver somas exorbitantes que estavam a ser lavadas em bancos, seitas, casinos e noutras lavandarias de igual respeitabilidade.

Deixou um oportuno alerta: Era de desconfiar quando alguém aparecia com muito dinheiro.

Tudo novidades! Não creio mesmo que alguma vez se tivesse ousado pensar que não era lícito o dinheiro quando surge às golfadas, ainda manchado de sangue.

Tal notícia levou a que no bairro, para não levantar suspeitas, ninguém ousasse pagar com notas de cinco euros, batatas compravam aos meios quilos e a manteiga aos pacotinhos de 125g. Os vizinhos vigiavam-se desconfiados. A dona Gertrudes nunca mais vestiu o casaco de caraculo (100% polyester), e o Mário da mercearia nem estreou o chinó.

Para chatices, diziam, bastava as que tinham, não viesse a bófia pedir-lhes contas e saber se tinham ou não o dinheiro para lavar.

Uma outra personagem, o senhor Júlio, ainda não se refizera do choque. "Lavar" dinheiro!?... Com o prato da sopa a meio caminho da notícia, perdera o apetite. Lavar dinheiro!...

Ele e a sua Joaquina que não haviam feito outra coisa em toda a sua vida: Lavar. Ele lavou barcos, lavou ruas, lavou carros, lavou tudo. Tudo o que encontrou sujo lavou, desengordurou, poliu. E a sua companheira, fez barrela, branqueou, esfregou casas, escadas, tudo. Tudo o que estava sujo, lavou. E o que é que têm hoje? Uma reforma suja, para não lhe chamar nojenta.

Mas essa de lavar dinheiro até podia servir de biscate, pensava o senhor Júlio que abandonou a sopa e foi até ao banco do jardim procurar alguém que o elucidasse sobre tão bizarra notícia.

E ia cogitando: “Isto deve estar muito mau! Os ricos a lavar... Eles que por onde passam só fazem imundice.”

E continuava sonhador: “O ministro desconfia dos bancos e das seitas é natural, ninguém sabe como conseguiram tanto dinheiro em tão pouco tempo; mas o Júlio!... O Júlio e a Joaquina todos conhecem cá no bairro. Foram sempre pessoas sérias. O senhor ministro pode confiar mais num dedo do Júlio do que em todos os banqueiros. Todos.”

E já idealizava uma lavandaria moderna, subsidiada pela U.E. máquinas de lavar, secar, passar... Um brinquinho!


Pobre senhor Júlio, de consciência asseada, que só soube amealhar miséria durante toda a sua vida. Não! Ele nunca conseguirá compreender, na sua bela simplicidade, que a sujidade não está no dinheiro, mas nas mãos de quem dele se apoderou.

E que esse dinheiro quando muda de bolso não troca de fato, ou se muda de farpela não altera o seu objectivo: Continuar do mesmo modo a espalhar o terror e a sordidez na bulimia sem limites do mais e mais, despedindo, fechando fábricas e entrando no sub mundo da especulação.

Tampouco se apercebe que os donos dos bancos são os banqueiros. os concessionários dos casinos, os grandes magnates, banqueiros também alguns deles, bondosas criaturas que acolhem no seu seio, digo, sua teta, todos os que estejam à venda, melhor ainda se estão em saldo, projectando-os na vida política como seus servidores.

E que os senhores do dinheiro possuidores dessas respeitáveis instituições de caridade, são os “jet-set” que se pavoneiam pelas colunas sociais de mistura com ministros, proprietários sinistros e outros benquistos do poder, num mundo que o senhor Júlio nem imagina que exista.

Milhões e milhões de contos, lavados ou por lavar, continuam a entrar em circulação como de trocos se tratasse, sem que ninguém dê por eles. Ninguém?...

Não será nas grandes e galopantes fortunas que os vamos encontrar.

Claro que não!


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