quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Será um ano novo?


«Há duas maneiras de matar: uma que se designa abertamente com o verbo matar; outra, aquela que fica subentendida habitualmente sob este eufemismo delicado: “tornar a vida impossível”. É a modalidade de assassinato lento e obscuro, que requer uma multidão de cúmplices invisíveis. É um auto-de-fé sem chamas, perpetrado por uma inquisição difusa

Eugène D’Ors, La vie de Goya

Um outro ano será de certeza, mas porque trará por arrasto os vícios e malefícios do ano que se diz findar; novo, novo de certo não será.

O ditoAno Novo” transportará no seu bojo tudo o que herdar de bom ou mau quando à nascença o seu progenitor se finar.

E não poderia ser de outro modo. Como é que na sequência deste ano caquéctico, repleto de pústulas, poderá surgir um outro escorreito, saudável, no seio do qual nos gosto ou seja desejável viver?

Em crescendo, às dezenas de milhar, os que sobrevivem da força de trabalho expressam na rua angústia e revolta; estranho seria que assim que mudasse o calendário, saltitantesano novo vida nova – esquecendo os atentados de que foram vítimas durante o ano que suportaram, rasgassem a última página do calendário sorridentes, felizes.

Vive-se o desconforto das manhãs húmidas e de viscosidade que se nos cola à pele e nesse mal-estar paira um resmungar colectivo que convida ao conflito.

O descontentamento é tecido com agulhas de sofrimento, processo lento e, no entanto, seguro que atravessa horizontalmente dias, meses, anos, sem ter em conta o almanaque.

O novo ano anuncia-se, abrem-se as janelas para o ver chegar, mas perde-se o jeito de o saudar; não surge triunfal como se poderia esperar, antes sonso, desajeitado, sem o rosto da esperança ou o porte viril que nos transmitiria a confiança destroçada.

A noite está escura e o som dos camiões do lixo não são bom presságio. Ao longe ouvem-se os morteiros e a alegria manifesta-se fugaz no colorido e na luz do fogo-de-vista. Volta a escuridão sem artifícios, é a realidade que se impõe, o negrume da tristeza que acompanha a insegurança.

Adivinha-se a madrugada impenetrável. O novo dia chega-nos denso, incerto. Vultos disformes deslizam fugazes, hesitantes no caminhar sem sentido nem destino.

O nevoeiro que se apodera de nós invade a noite. É o primeiro dia do novo ano que se anuncia.

se ouvem os clamores!

Barómetro

Respigando os jornais de hoje

Número de reclusos aumentou 10% num ano.

Portugal perdeu 600 guardas mas ganhou 800 novos reclusos.

Funcionários públicos sofrem, a partir de Janeiro, corte inédito nos salários.

Saúde.

21 milhões de euros gastos em consultorias que não serviu para nada. (para nada?).

Mortalidade infantil com maior crescimento dos últimos 24 anos, é a maior subida desde 1985.

Acabou a isenção de taxas moderadoras na saúde para quem ganha mais do que o salário mínimo.

Transportes de doentes não urgentes deixa de ser pago a quem ganha mais do que o salário mínimo.

Desempregados e pensionistas vão passar a pagar o transporte de ambulâncias.

Portugal precisa de 20 mil milhões de euros,

mas

Casino de Tróia abre no dia 1 de Janeiro.

Estamos safos!


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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Como combater a crise



Ajudas aprovadas em 2009 pelo governo: «Dois terços da ajuda anti-crise 2,2 mil milhões de euros (61%) foram parar ao sector bancário e 1% para apoio ao emprego».

As despesas extraordinárias dos submarinos vão ser pagas com receitas extraordinárias obtidas com a transferência do Fundo de Pensões da PT para o Ministério das Finanças. Submarinos que trazem à tona investigações na fase de instrução em que três gestores alemães e sete portugueses estão acusados de burla qualificada, falsificação de documentos e suborno.

Além da banca estão de parabéns os trabalhadores que recebem o salário mínimo e vão ser aumentados 33 cêntimos por dia.

Os desempregados com rendimento superior ao salário mínimo nacional vão começar a pagar taxas moderadoras a partir de 1 de Janeiro.

A trempe. Banca, Finanças e crápulas dão-nos uma ligeira amostra do caminho que pretendem seguir em 2011.

2011 de luta. 2011 ano em que o descontentamento se manifestará na rua e o sofrimento se tornará revolta.

2011 ano em que o sempre foi, o sempre há de ser deixará de ter sentido e fará acordar muitas consciências adormecidas.

Tenhamos confiança no 2011, ele será o que nós quisermos.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Deus os fez...

Acabou-se o espectáculo. As malgas de sopinha a transbordar de piedade e amor estão vazias; na árvore de Natal as luzinhas deixaram de tremelicar; os carenciados voltaram às trapeiras e os cânticos natalícios deram lugar ao triste fado de todos os dias.

A igreja e os governantes trocam acusações e contabilizam as lágrimas vertidas pelos pobrezinhos.

E concluem que o Orçamento e Deus sabem.

Dona Abastança


«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa
senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«
Dar a todos não se pode.»

se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O
que tem
Dá a
pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai
caro fazer o bem
Elaele subtrai
Fazem
como lhes convém

Ela aos pobres dá uns cobres

Ele incansável vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo
mais e mais pobres.

se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E
ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De
tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao
povo desta cidade.

Manuel da Fonseca

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sábado, 25 de dezembro de 2010

Para que conste!


Para que conste!

O homem mais rico de Portugal confirma a origem da sua criminosa fortuna:

«Os portugueses têm grande capacidade de sofrimento.»

Américo Amorim

Os amorins não querem compreender que o sofrimento tem limites e que a arrogância e a exploração são o húmus da revolta.

Depois queixem-se!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O meu Menino Jesus

Este é o menino Jesus que me enternece e ilumina.

Vejo Nele todos os meninos Jesus que os abutres em festivo holocausto devoram pela fome.

O menino Jesus do jumento, do boi ou da vaquinha que o bafeja e aconchega nas palhinhas e é visitado pelos Reis Magos, esse menino Jesus que sonho para todas as crianças é o símbolo da hipocrisia que nos rege. É o enviado de um deus que promete a paz e o amor entre os homens e nos mantém à beira do apocalipse.

Em cada cinco segundos um dos meus meninos Jesus morre de fome devorado pelos abutres que da fome alheia se alimentam.

Quem os poderá ignorar?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Parabéns Camarada Niemeyer

Niemeyer faz 103 anos cheio de projetos


A inspiração parece correr mais rápido que o tempo para Oscar Niemeyer. O arquiteto completou 103 anos ontem participando da inauguração de mais uma de suas obras erguidas na orla de Niterói, na região metropolitana do Rio. Com fôlego de sobra, Niemeyer apresentou ainda quatro projetos inéditos e mostrou que ideias novas continuam a sair de sua prancheta.
"Estadão.com.br"


Alertado pelo "sítio dos desenhos" de Fernando Campos, junto a minha alegria e o natural orgulho que sinto pelo génio e coerência do homem que desde sempre soube tomar Partido.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Bater o pé

manda Portugal bater o pé enquanto bate a sorna

De máscara para se proteger de tanta sandice, um dos matutinos ditos de referência revolveu e retirou do baú de vacuidades que soares tem sempre disponíveis, estas formosas pérolas:

"Temos o direito de bater o à Europa".

Devemos falar alto na União Europeia.

O Governo português deve “bater o aos líderes europeus Merkel e Sarkozy...

Quando os “órgãos de manipulação social” se encontram em rotura de parvoíces, lugares-comuns, ou alarvidades, acorrem àquela coisa de apelido soares e vasculham à-vontade nessa esterqueira de banalidades. O estoque é incomensurável.

«Portugal engrossa a voz e bate o , e a Europa estarrecida entra em colapso

Amarfanhado, rouco e de torcido, Portugal vai dançando o fandango para gozo de Merkel, Sarkozy e toda a tropa-fandanga que nos esbulha.


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O ASSALTO



O governo do patronato sugeriu. O patronato aceitou de bom grado a sugestão por ele sugerida. A UGT, ainda com o cheiro do traque da adesão à greve geral a que o movimento popular a forçou, não discorda.

Ou seja: a Ministra do Desemprego ex-funcionária da UGT, o patrão dos patrões também ex-responsável da UGT, e à custa da qual se encheu, e o Secretário-Geral da UGT, esta trempe sinistra, representa a escumalha que nos esbulha.

«O Governo propõe, com o nosso dinheiro, criar um fundo para financiar custos dos despedimentos». A extorsão é publicitada como sendo um bem social que dinamizará o mercado de trabalho. O mercado. Assim, os desempregados e os trabalhadores com emprego mesmo relativamente estável, pagariam com os seus impostos directos e indirectos o seu próprio despedimento para que a UGT-patronato-governo no “mercado de trabalho”, leia-se, Praça de Jorna, recrutem mão-de-obra ao preço que muito bem entendam.

O saque atinge níveis jamais vistos. A vigarice, o palmanço, a trapaça, o esburgo, o ludíbrio, o latrocínio e mais de cerca de trezentos vocábulos sinónimos não são de mais para classificar esta nefanda gente. Canalha abominável, velhacos que podem ser designados com frases e termos que melhor classifiquem estes patifes, pulhas, crápulas execráveis.

Aceitam-se vocábulos mais recentes como privatização ou prescrição que se podem incluir no glossário da gatunice.

«A «praça de trabalho» ou «praça de jorna» é um mercado de mão-de-obra, a que vão assalariados e proprietários e em que os primeiros, como vendedores, oferecem a sua força de trabalho, e os segundos, como compradores, oferecem o salário ou jorna, que é a paga de um dia de trabalho (jornal).»