quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A pergunta fundamental


A pergunta fundamental das humanidades

Por Fundação José Saramago

Do ponto de vista empresarial, não fazem falta as humanidades. A pergunta fundamental das humanidades é o que é o ser humano, enquanto que, para os círculos empresariais e tecnocratas que se ocupam da utilidade imediata, [a pergunta] é para que servem os seres humanos.

Vitórias e derrotas

Nada está definitivamente perdido, as vitórias parecem-se muito com as derrotas. Nem umas nem outras são definitivas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

eppur si muove


Não à austeridade


Manifestações, concentrações, protestos, reivindicações

Quarta-feira dia 29, dia em que decorre um encontro dos ministros das Finanças europeus, são esperados em Bruxelas 100 mil sindicalistas europeus.

Em Portugal a CGTP anunciou que está a preparar greves sectoriais e concentrações em Lisboa e Porto.

Também na Letónia, Lituânia, República Checa, Chipre, Sérvia, Roménia, Polónia e Irlanda os trabalhadores fazem sentir a sua revolta contra as medidas de austeridade de que são vitimas.

Em Espanha, as duas maiores centrais sindicais convocaram uma greve geral.

"Não podem ser apenas os trabalhadores a pagar a crise, enquanto aqueles que a provocaram estão de novo a enriquecer". Na UE há 23 milhões de desempregados e milhões de pessoas em situação precária.

um caminho:

A LUTA!


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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Implosão da Mentira - Affonso Romano Sant'Anna




A Implosão da Mentira

ou

o Episódio do Riocentro

Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e
hoje mentem novamente. Mentem
de
corpo e alma, completamente.
E mentem de
maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem
tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de
tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a
verdade em trapos pelas ruas.

Sei
que a verdade é difícil
e
para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Fragmento 2


Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma
flor nasceu em Hiroshima
e
em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem
como a dentadura
mente ao dente,
mentem
como a carroça
à
besta em frente,
mentem
como a doença
ao
doente,
mentem
clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao
ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o
sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a
caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E
assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical? mente,
mente incontinente? mente,
mente hereditária? mente,
mente, mente, mente.
E de
tanto mentir tão brava/mente
constroem
um país
de
mentira
-diária/
mente.

Affonso Romano Sant’Anna
Publicado no livro Política e paixão (1984)


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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

José Barata-Moura - Francisco Lopes


José Barata-Moura mandatário Nacional da candidatura de Francisco Lopes à
Presidência da República

Declaração

«Vivemos um período difícil e complexo. É precisa uma inflexão das políticas. É preciso uma mudança da política.

A cartilha liberalista – que continua a ir sendo soletrada em diversos tons – trouxe-nos à crise: não nos pode fazer sair dela.

Portugal redefiniu os seus rumos históricos na revolução de Abril. É essa navegação que tem que ser retomada com lucidez, sem ambiguidades, nem hesitações.

O interesse de Portugal – no exercício da sua soberania – tem de recentrar-se no interesse dos trabalhadores e do povo: sem o seu empenho e participação nãoreconstrução de um país.

Francisco Lopes, candidato à Presidência da República, pelo seu percurso de vida e pelo movimento que encabeça, é o rosto e a voz dessa mobilização necessária para um duro trabalho a prosseguir.

É por isso que – honrado pelo convite para mandatário nacional, que de boa mente aceito – dou o meu apoio à candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

BOAS-FESTAS

“O Governo poderá ser obrigado a avançar com medidas adicionais de controlo da despesa pública antes do final do ano” e Murteira Nabo – o economista que os trabalhadores da Marconi guindaram a administrador e que hoje tem a burra atulhada de milhões – adianta “que o corte do subsídio de Natal é a medida maisimediata e eficazpara alcançar esses objectivos”.

«imediata e eficaz»


A canalha vem atirando barro à parede. Vai criando o temor pelo perigo ainda não concretizado, mas que se antevê, para que a revolta se esbata e, quando consumado o crime, a ira tenha perdido a força necessária para se impor. A canalha sabe muito, a canalha tem um vasto currículo de canalhices e é especialista em preparar autos-de-fé sem fumo nem odor.

A ideia não é original. Essa coisa a que alguns designam como pai da democracia, quando primeiro-ministro também cometeu a mesma escroqueria.

Preparem-se! O garrote ainda está no começo.



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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os Estatutos do Homem


Thiago de Mello


Os Estatutos do Homem


Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.

agora vale a vida,

e de mãos dadas,

marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,

inclusive as terças-feiras mais cinzentas,

têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,

haverá girassóis em todas as janelas,

que os girassóis terão direito

a abrir-se dentro da sombra;

e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,

abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem

não precisará nunca mais

duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem

como a palmeira confia no vento,

como o vento confia no ar,

como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:

O homem, confiará no homem

como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens

estão livres do jugo da mentira.

Nunca mais será preciso usar

a couraça do silêncio

nem a armadura de palavras.

O homem se sentará à mesa

com o seu olhar limpo

porque a verdade passará a ser servida

antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,

a prática sonhada pelo profeta Isaías,

e o lobo e o cordeiro pastarão juntos

e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido

o reinado permanente da justiça e da claridade,

e a alegria será uma bandeira generosa

para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor

sempre foi e será sempre

não poder dar-se amor a quem se ama

e saber que é a água

que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia

tenha no homem o sinal de seu suor.

Mas sobretudo tenha

sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,

qualquer hora da vida,

uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,

que o homem é um animal que ama

e que por isso é belo,

muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado

nem proibido,

tudo será permitido,

inclusive brincar com os rinocerontes

e caminhar pelas tardes

com uma imensa begónia na lapela.

Parágrafo único:

uma coisa fica proibida:

amar sem amor.


Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro

não poderá nunca mais comprar

o sol das manhãs vindouras.

Expulso do grande baú do medo,

o dinheiro se transformará em uma espada fraternal

para defender o direito de cantar

e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,

a qual será suprimida dos dicionários

e do pântano enganoso das bocas.

A partir deste instante

a liberdade será algo vivo e transparente

como um fogo ou um rio,

e a sua morada será sempre

o coração do homem.


Santiago do Chile, Abril de 1964

A Carlos Heitor Cony

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