quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MAIS, MAIS e MAIS


MAIS, MAIS e MAIS

“A sociedade não existe, mercado!

António Quinet

A nossa salvação está na produção. Somos impelidos a produzir cada vez mais e mais depressa, aumentar as cadências, fomentar as demências, galopar sem sentido. Aprofundamos os pilares da nossa felicidade no ter cada vez mais e mais. E para fazer face a necessidades artificiais, cada vez mais somos atrelados à competitividade que impõe salários sempre mais baixos, exigindo ritmos de escravatura que se supunha não mais voltarem.

E o nível de vida desce mais e mais e a concentração do capital cresce sem limites mais e mais, sempre mais. O excesso de produção atafulha o planeta com bricabraque que nada tem a ver com as necessidades da quase totalidade dos que vão vegetando e perecendo, por lhes negarem os mais elementares meios de sobrevivência. E a bulimia dos poderosos, essa fome devoradora que tudo abocanha, exige mais, mais e mais fome e sacrifícios a quem trabalha.

Era a “sociedade de consumo” diziam eles, onde a suprema felicidade residia no consumir desenfreadamente sempre mais, mais e mais. Uma sociedade autofágica, imposta pelos ideólogos do neoliberalismo.

Agora andam mais poupadinhos.

Raro é o dia em que os analistas que, até então tonitruantes, nos empurravam para o consumo vêm, pezinhos de , segredar-nos ao ouvido “Queiram poupar! A gestão de dinheiro pressupõe 80% de motivação e 20% de método e técnicas. Boas poupanças!” Esses analistas, imberbes, de lição bem encaixilhada têm fórmulas, percentagens, métodos para ensinar aos pobrezinhos como poupar mais! Vejam bem onde chegou a farsa ou ignorância ou desplante ou velhacaria.

Uns rapazotes bem instalados na sociedade, surgem nos jornais e na TV a instruir os que, durante toda a vida, por nada terem se doutoraram na arte de não gastar.

A dona Alice, com pensão de sobrevivência, tem ouvido os recados e não ficou agradecida como também muito sensibilizada.

O senhor Manuel, desempregado, com uma casa de família a sustentar, como não poderia deixar de ser, foi também muito receptivo.

A editora do Notícias Magazine ‘nm’ ultrapassa toda a desfaçatez sugerindo atitudes e entretenimentos para ajudar a suportar a crise. Confessa não saber como dar a volta à crise, mas aconselha a que as dificuldades não dêem cabo da nossa alegria. Estão mesmo a ver alguém com a casa por pagar, sem possibilidade de fazer face às mais elementares necessidades, à procura de trabalho com a alegria de quem vai para a festa. Sugere, pois, que “temos de saber rir quando achamos que temos razões para chorar e que devemos aproveitar para jogar à bola com os filhos, naquele jardim mesmo em frente à casa ou aproveitar para aprender a andar de bicicleta”.

É evidente que esta gentalha é paga para encher páginas de disparates sem respeito pelos que sofrem, demonstrando não possuir um mínimo de sensibilidade.

Não lhes podemos pedir mais, muito menos que esclareçam o porquê desta hecatombe.

2 comentários:

Maria disse...

Creio que, apesar do gesto, o Luiz Pacheco não gosta nada da companhia na foto...

Fernando Samuel disse...

Bom texto!

(Fazem o que lhes ensinaram - e o que lhes mandam fazer...)


Um abraço.