terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nem mais...

«A minha preocupação como dirigente sindical seria se pertencesse a um partido que fizesse ou defendesse uma política contrária àquilo que defendo. (…) das duas uma, ou deixava o movimento sindical, ou deixava o partido.”

Arménio Alves Carlos
CGTP-IN

domingo, 29 de janeiro de 2012

SUSPIROS e LAMENTOS

“Uma tristeza cheia de pavor esfria-me.”
Demogorgon – Álvaro de Campos
SUSPIROS e LAMENTOS

Uma manhã soalheira, um dia como qualquer outro na capital de um país que de seu pouco mais tem que a bandeira; mas havia sol, esse que quando nasce, dizem ser para todos. Dizem…

Encontrava-me numa das ruas que vai desembocar no Marquês de Pombal, artéria movimentada, invadida por escritórios, e com a correspondente densidade demográfica daí decorrente.

Entrei no café, aproximei-me do balcão e, quando me preparava para encomendar a rotineira bica, a senhora a quem me ia dirigir soltava um profundo suspiro que mais se afirmava como lamento.

Respondendo à interrogação do meu olhar com um sorriso triste, indicou as mesas vazias e, como que a pedir desculpa, exclamou: é isto!

“As despesas fixas vão aumentando, a concorrência é enorme, a clientela escasseia, de dia para dia, e a que ainda aparece vem reduzindo os gastos.”

E continuou:

“Neste edifício a maior parte dos escritórios fecharam; e nos que restam quase todo o pessoal está a prazo, e com os baixos salários de que usufruem, a bica habitual torna-se num luxo.”

Já não era a justificação do suspiro, nem parecia que se me dirigisse, as frases iam saindo como um lamento ou lamúria ou talvez desabafo.

“Tinha quatro empregadas, agora só tenho duas, e são imigrantes. Aceitam salários mais baixos. Compreende?...”

De forma desajeitada esbocei um: É pena… a vossa classe, quando se encontrava um pouco mais desafogada, insurgia-se contra as greves, achava que os trabalhadores estavam sempre a exigir melhores vencimentos, mais segurança e… não pensaram que são os trabalhadores, que têm o salário assegurado, os vossos principais clientes.

Os grandes senhores, os que ganham milhões, não é aqui que vêm tomar o pequeno-almoço, comer um bolo, beber um café. A vossa prosperidade depende totalmente do bem-estar da classe média, que também está sendo espoliada de direitos, direitos que foram adquiridos por todos aqueles que nada mais possuem que a sua força de trabalho.

Nunca pensou nisto, pois não?

A senhora fixava-me com um olhar vago, não sei se concordando comigo se continuando a pensar no negócio que tantas preocupações lhe causava.

Mais um suspiro e num murmúrio desabafou: “investi aqui as minhas últimas economias e já não tenho idade para encontrar trabalho. Nós os pequeninos somos esmagados como formigas, isto está bom é para os grandes, os muito grandes.”

E por aqui nos ficámos.

Um outro comerciante, sujeito inteligente, depois de me servir e antes que eu saísse, procurou fazer conversa, detendo-me durante algum tempo no estabelecimento, e dada a convergência de pontos de vista acabou por me confessar: procuro entreter os clientes para manter a casa composta.

“Um estabelecimento vazio afasta a clientela. A pastelaria, o café, o restaurante ou a taberna são espaços sociais, as pessoas sentem-se bem acompanhadas, além de que um estabelecimento cheio faz pressupor que o produto é bom ou que a relação qualidade preço é, no mínimo, aceitável.”

Fez questão de me oferecer um café e acabámos por nos sentar; a necessidade de falar, de extravasar as preocupações acumuladas. Era urgente a catarse, sentia-se.

Sem perda de tempo continuou: “Levamos uma vida de faz-de-conta; fazemos de conta que somos patrões, fazemos de conta que tudo vai bem. Denunciar as nossas dificuldades só nos dificulta a comunicação; na generalidade, as pessoas sentem-se melhor com os que têm uma vida desafogada, como se tivessem receio que as dificuldades e as preocupações sejam contagiosas; estar junto dos que vencem dá-lhes mais segurança.”

E num discurso magoado continuou:

“A exclusão social começa a fazer-se sentir não só sobre os que nada têm, mas também sobre os que vão deslizando para o nada ter. Por isso é necessário ludibriá-los, dando-lhes a ilusão de que tudo vai bem. Esta sociedade cilindra todos os que não vencem, sem questionar que meios utilizam os pretensos vencedores.”

Levantei-me e agradeci-lhe a atenção. De olhos marejados e voz embargada pediu-me para voltar, gostava de conversar comigo. Disse. E com um sorriso triste concluiu: Sabe; tenho necessidade de falar.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A LAMA

Quando a contra-revolução, a mais empedernida, necessita de lama para atirar aos trabalhadores e aos seus órgãos de classe, dirige-se ao armazém de “Soares§Cia de irresponsabilidade ilimitada”.
Quando do XII Congresso da CGTP-IN, como não podia deixar de ser, foram entrevistar o patrão da firma que sem quaisquer outras considerações de relevo concluiu de imediato, ser a CGTP-IN o braço do PCP. A propósito do “sindicato” do Proença-UGT, o PS nunca se imiscuiu nessa organização, e ele, obviamente, também não.

Só lhe falta afirmar que nunca conheceu o Gonelhas, nem sequer dele ouviu falar, e que esta foto é uma montagem.
É homem para isso e muito mais, muitíssimo mais!...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CONVITE

Não. Assim não é seguro que venças a batalha. Segundo as crónicas isso aconteceu há já muitos séculos e, como opositor-mor, não podes ficar amarrado aos feitos dos teus egrégios avós. Deixa-te de preces e vem até ao Terreiro do Paço no próximo dia 11 de Fevereiro, se é que de facto te opões a tudo com o que dizes discordar. Pára com essa lengalenga de que já andamos fartos ou então confessa que todo esse blablablá é “conversa pra boi dormir”.

Se no dia 11 não te encontrar no Terreiro do Paço, já sei, estás em Aljubarrota esperando o milagre. E até podes por lá ficar esperando.
Ajoelhado.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PRIMATAS

«Os primatas são mamíferos onde se incluem macacos, chimpanzés os seres humanos e outros hominídeos.»
«trato os meus iguais com humanidade»

«Como é possível que descendentes meus regredissem tanto e continuem a designarem-se “humanos”?»

Em qual destes primatas podemos confiar?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Duas classes em confronto

Vi, revi e tornei a ver, a entrevista feita por Mário Crespo a Arménio Carlos que, além do conteúdo, apresenta duas posturas distintas.

O entrevistador surge-nos acaçapado, verbo untuoso de onde escorrem vocábulos de emboscada, frases viperinas e as clássicas questões extraídas de velhas sebentas ideológicas desfasadas da realidade. Procurando de modo sibilino, mas sem resultado, enredar o entrevistado, Crespo incorpora a imagem de alguém que leva um recado e não se sente à-vontade ao enfrentar o destinatário. Um Crespo crispado, deitando óleo no seu desconforto para refrear a encrespação.

O entrevistado é alguém que pela fisionomia e postura física manifesta a vontade de ir à peleja. Responde com fluência e convicção, investe e toma o lugar do entrevistador obrigando-o a aceitar os seus argumentos.

Arménio Carlos representa e responde pela classe a que pertence. Os trabalhadores têm nas suas estruturas de classe quadros conhecedores e combativos.

Não estão sós.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O NEGÓCIO CONTINUA A CRESCER

«Os quatro maiores grupos económicos a operar na área da saúde em Portugal facturaram, em 2011, mais de 924 milhões de euros, um crescimento a dois dígitos (13%) face ao ano anterior. Para este ano, com o aumento das taxas moderadoras, e apesar da diminuição do poder de compra, os privados esperam que o negócio continue a crescer.»
De o “Jornal Negócios”

A notícia é sucinta e esclarecedora. A nossa saúde é um bom negócio e “os quatro maiores grupos económicos” os principais vampiros.

sábado, 21 de janeiro de 2012

UM OLHAR

«Os empregados da fábrica “X” foram assistidos pelos médicos ao tomarem conhecimento que tinham sido despedidos.»
rodapé na RTP1

As estatísticas, quando honestas, são um precioso auxílio para aferirmos a extensão do clima social, mas a sua glacial expressão nunca reflecte a profundidade do que pretende demonstrar.
O desemprego aumenta, o poder de compra diminui, as responsabilidades fixas abocanham a quase totalidade dos salários, quando existem e, é na alimentação que as restrições mais se fazem sentir. (Mais de metade das crianças do ensino básico de Lisboa sofrem de privações a nível alimentar. “Instituto de Apoio à Criança”).

Não é através dos comentadores de serviço, perorando sobre macroeconomia, que nos podemos aperceber da angústia sofrida pelos que protagonizam os dramas do dia a dia; é nos pequenos gestos que nos fazem fremir e transbordar de emoção que se vive e sente o que os números calam e os analistas escondem.

O peixeiro há já bastantes anos que estaciona a carrinha no mesmo local e nos mesmos dias da semana, a freguesia esperava-o e, ao arribar, o senhor Fernando, em grande azáfama, fazia os preparativos para iniciar o negócio.
Para evitar atropelos, os fregueses que iam chegando certificavam-se de quem era o último, aguardavam a sua vez, nalguns casos esperando uma boa meia hora.
O peixe, tal como agora, era fresco, os preços razoáveis, em relação a outros comerciantes, e a decisão dos clientes rápida.

À tecnocracia do discurso oficial ou às estatísticas dos seus departamentos, não podemos exigir que reparem na expressão de um olhar, espelho que reflecte todas as nossas emoções, da mais esfuziante alegria ao desgosto mais pungente. Os números são cegos, os governantes vesgos.
O senhor Fernando continua a chegar com a regularidade costumada, mas já não é esperado; calmamente abre as caixas do pescado, coloca os preços, olha em redor e aguarda os clientes. Cheguei alguns passos atrás de uma senhora, ficando o peixeiro a aguardar que se decidisse; atento, reparei que fixava, não a mercadoria mas os preços; semblante carregado, vacilante, assim se quedou durante algum tempo.
Ao reparar em mim, fez-me sinal de que me poderia servir, lembrando-lhe eu que havia chegado depois e que aguardaria a minha vez.

Eu sei, disse-me, mas faça favor. Estou a pensar.

Continuou a fixar os preços e pensava… relacionava o dinheiro de que dispunha e as bocas que lhe exigiam o sagrado sustento. Deduzi, e não me devia afastar muito da verdade. As estatísticas não revelam a angústia, nem mostram os pais que, à hora da refeição, se dão por satisfeitos para que os filhos tenham um pouco mais de sustento.
Observei-a melhor: olhava mas não via; dir-se-ia hipnotizada, bloqueada.
Num desabafo quase sussurro, um lamento, entendi: está tudo tão caro!…
Sentia-se que havia perdido a capacidade de se indignar, olhou em redor como que a pedir ajuda e, sem nada dizer, retirou-se cabisbaixa, caminhando, lentamente, sem aparente destino.

Olhámos-nos eu e o peixeiro, tentando encontrar palavras ou coragem para tecer qualquer comentário.
- Por este caminho não sei onde vamos parar! Exclamou num tom magoado.
- Ainda agora a procissão vai no adro, retorqui.

Subitamente, fomos sacudidos pela travagem brusca de um carro. O motorista blasfemava contra a senhora que ainda há pouco nos deixara e que, sem alterar o passo, continuou o seu caminho.
O caminho do futuro radioso que nos têm prometido e no qual os ingénuos ou tolos têm acreditado.

E ainda agora a procissão vai no adro!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A gargalhada e a provocação

A capa do matutino, propriedade de um dos maiores patrões, é um grito de alegria patronal e uma provocação grosseira.

É, além do mais, um aviso aos que ainda têm emprego: a vossa vida pertence-nos, estão reféns das leis que impusemos ao PS/PSD/CDS, e que o traste do costume lambeu de cruz.

A foto, um borrão escuro, a provocação reles.

E o PS, pela escrita de Francisco Assis, um dos seus principais dirigentes, afirma sem rebuços: «A UGT prestou uma vez mais um grande serviço ao país em geral e aos trabalhadores em particular.»

Talvez venha a propósito. “A venda dos ansiolíticos subiu 177% e os suicídios também sobem em flecha.”

Que magnífico serviço, PS/PSD/CDS/UGT estão prestando ao país!...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O CRIME

E nem a mão lhe treme ao cometer o crime!
Disparou porque assim lhe exigia a troika.
As troikas exigem que sejamos escravos e eles assinaram a sentença.
A execução ainda não está garantida.
Garantida está a canalhice!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A CANALHA

A CANALHA

Daniel Bessa e Silva Peneda enaltecem a coragem do dr João Proença.

Chamando os rafeiros pelos seus nomes, e descalçando as luvas de pelica, diremos que o dr. Proença tem sido apoiado pela ralé oportunista de trabalhadores sem sentido de classe, e, para os quais poderemos encontrar milhares de razões por serem os canalhas que são. Trabalhadores que vão sofrer os trato de polé como quaisquer outros. Se forem somente burros talvez aprendam; caso continuem a ser burros e canalhas

CGTP diz que o acordo é um "regresso ao feudalismo"

Tal como era de esperar a CIP e a UGT - os dois funcionários da UGT, UGT braço direito da CIP – assinaram o “regresso ao feudalismocomo muito bem o designou a CGTP.

OS TRABALHADORES CONSCIENTES TÊM QUE CERRAR FILEIRAS.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Outro Portal


Dar fortunas aos escroques e reduzir os salários de quem trabalha.

A desconcertação social está em marcha.

Não vamos entrar no choradinho da “falta de consciência”. Não!

O crime organizado recorrendo a múltiplas encenações, leis ou decretos e assessorados pelos tais meios de comunicação social está-nos arrastando para a escravatura.

Não há alternativa. A luta é o caminho!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Rosa Luxemburgo 5/3/1871 -- 15/1/1919

O interrogatório de Rosa Luxemburgo

O interrogatório
De
Rosa Luxemburgo
Durou
apenas algumas horas. Ela sabia
Tão bem como os seus carcereiros
Que palavras ali não existiam. Caída
Na
batalha
Contra o nervo vital do Estado; banhada
Em sangue
E
quase sem sentidos,
Rosa,
Frágil camarada,
Pediu aos caçadores
seus assassinos
Agulha e linha. E, silenciosamente,
Com uma pistola apontada à têmpora,
Coseu a
bainha da saia que se encontrava
Descosida.
Pouco depois
O
cadáver
Foi lançado à
água.

Casimiro de Brito

Aqui o capitalismo revela a sua caveira, aqui confessa que o seu direito de existir caducou, que a continuação do seu domínio não é compatível com o progresso da humanidade

Rosa Luxemburgo

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

PRAÇA DE JORNA - 1962/2012


2012. Comemora-se o quinquagésimo aniversário pela conquista das 8 horas de trabalho do proletariado agrícola alentejano. Centenas de prisões e de trabalhadores torturados pela PIDE, alguns dos quais sucumbiram por não resistirem às torturas e outros abatidos sumariamente.

O PCP simbolizou estas lutas e ninguém o contesta.

Meio século depois o neofascísmo pretende impor novamente a “Praça de Jorna”, o trabalho escravo. É necessário e oportuno comemorar esta data histórica e impedir um doloroso retrocesso civilizacional.

Os latifundiários de ontem são ideologicamente os governantes de hoje.

E o PCP, o Partido da classe que se lhes opõe.

* * *

Por se tratar de um documento histórico e de uma correcção ideológica exemplar, fruto do conhecimento vivido, publico-o, não obstante a sua extensão.

Praça de Jorna

I

Entre os camponeses de certa região, designa-se por «praça» o ajuntamento dos assalariados rurais em locais certos e dia fixado, com o fim de contratarem trabalho, ou – como usam dizer – tomarem patrão.

A «praça de trabalho» ou «praça de jorna» é pois um mercado de mão-de-obra, a que vão assalariados e proprietários rurais (ou os seus delegados: os capatazes), e em que os primeiros, como vendedores, oferecem a sua força de trabalho, e os segundos, como compradores, oferecem o salário ou jorna, que é a paga de um dia de trabalho (jornal).

Daí a designação de «praça de jorna» ou «praça de trabalho», mais apropriada do que «praça de homens» como já se tem chamado, visto que não são propriamente os homens o que está à venda no mercado, mas sim a sua força de trabalho, isto é, o conjunto das suas faculdades físicas e intelectuais utilizadas na produção.

Convém insistir neste ponto, porquanto aquela designação corresponde a uma corrente de opinião acerca das «praças», ou seja, de que elas são ainda restos do antigo mercado de escravos e, portanto, desumanas e inteiramente condenáveis. Em certo artigo doutrinário escreveu-se que «as praças de homens são, na realidade, mercados medievais da força de trabalho».

A verdade é que, antigamente, o homem do campo não era livre de dispor da sua força de trabalho: era escravo ou servo da gleba e, como tal, todo ele considerado uma ferramenta ou simples objecto de uso, que o senhor podia vender ou trocar ou, quando escravo, destruir. Os antigos romanos dividiam mesmo as forças de produção em 3 categorias: os meios de trabalho mudos (os objectos), os meios de trabalho semi-mudos (o gado), e os meios de trabalho falantes (os escravos). Ao passo que, modernamente, dentro da forma capitalista, o que constitui a mercadoria é a força de trabalho do homem, e não o próprio homem. Este, até certo ponto, é livre de escolher ou mudar de patrão ou ofício. Portanto, se no mercado medieval o homem passava das mãos de um senhor às de outro senhor, de um vendedor a um comprador, na «praça» actual o trabalhador rural vende a sua força de trabalho ao lavrador, por um tempo determinado (dia ou semana) e recebe em troca um valor: o salário.

Quer isto dizer que o trabalhador recebe o justo valor do seu trabalho? De modo nenhum. Quer dizer também que o trabalhador, tendo deixado de ser escravo ou servo, é agora inteiramente livre? De modo nenhum. No sistema capitalista de produção, os assalariados estão dependentes da classe que possui os meios de produção (proprietários da terra e das máquinas, etc.), são obrigados, para não morrerem de fome, a vender as suas faculdades físicas e intelectuais. E nesse «negócio» forçado, os patrões aumentam o seu capital, enquanto os assalariados desgastam a sua única riqueza: a força de trabalho.

II

Pelo que acabamos de ver, e se bem que existam ainda muitos restos de medievalismo, tanto no modo como nas relações de produção agrícola (o Foro, as coutadas, o uso do arado, a designação de servo, etc.), a «praça de jornas» é fruto da sociedade capitalista, em que até as faculdades do homem constituem uma mercadoria. Tanto assim que, mesmo noutros domínios da produção, se encontram «praças de trabalho», como a Casa do Conto dos estivadores de Lisboa, os quais, ainda há bem pouco tempo, se juntavam perto das docas, para condições colectivas de trabalho.

A condenação da praça de jorna por parte de alguns doutrinários só pode basear-se no espectáculo humilhante dum grupo de homens postados em qualquer largo de uma povoação, à espera de trabalho; bem menos humilhante todavia, do que ver estar um só homem de chapéu na mão no pátio dum lavrador, muitas vezes a suplicar trabalho por qualquer preço, como é o caso na «praça».

Por outro lado, a antipatia de muitos camponeses pelas «praças», só pode filiar-se no atraso da sua consciência de classe, no seu individualismo característico, por via do qual julgam obter, sozinhos, as condições de vida que só colectivamente, unidos e em luta, conseguirão.

O que há que combater, não é a «praça de jorna» tomada isoladamente: são, sim todos os espectáculos humilhantes da sociedade capitalista; é o regime de trabalho a que estão sujeitos os proletários do campo e da cidade pela classe dominante; é a exploração brutal dum homem por outro homem.

Mas então – haverá quem pergunte – é a praça de jorna um processo mais progressivo e mais útil de contratar trabalho do que o processo individual de contrato em casa dos patrões ou dos camponeses? Afirmamos que sim.

Embora não tenhamos dados históricos sobre a instituição das «praças», o facto de elas vigorarem na região do país em que o proletariado rural está mais diferenciado e atingiu maior consciência de classe, leva-nos a admitir que as «praças» foram, em tempos, uma reivindicação camponesa, um passo em frente em relação ao contrato-individual.

O que mais importa, porém, é saber se a formação e defesa das «praças de jorna», no estado actual da classe camponesa dentro do regime salazarista, é ou não uma palavra de ordem justa e de interesse para o movimento de unidade camponesa, e se, por consequência, contribui ou não para a libertação dos camponeses do jugo fascista.

Que a «praça» é útil ao movimento de unidade dos camponeses assalariados, prova-o a resistência constante que o patronato opõe ao funcionamento normal das «praças». Assim, durante a luta contra a tabela de salários imposta pelas Comissões Arbitrárias em 1943, os patrões propuseram salários superiores ao da tabela, com a condição de que as «praças» fossem suspensas. Desse modo, iriam compensar-se mais tarde daquilo que pagariam a mais naquela altura. Também, numa certa localidade em que a tradição na «praça», há muito tempo desaparecida, foi retomada pelos trabalhadores, os patrões evitaram mandar os seus capatazes à «praça» durante duas semanas seguidas, pois sabiam, como de facto sucedeu, que as jornas subiriam logo em seguida.

Dizemos que a «praça» é útil à unidade dos camponeses; e não simplesmente à subida das jornas, porque a «praça» não representa apenas um campo de luta por melhores jornas, mas também por outras condições de trabalho: e, além disso, porque é somente através da sua unidade que os camponeses conseguirão melhorar essas condições e o seu nível de vida.

É bem sabido que a união faz a força. E a «praça de jorna» comprova o ditado. Naquela, o trabalhador sente a força da união dos companheiros; levanta a voz; teima; defende os seus direitos. Ao passo que, no pátio do patrão ou na sua casa, porque está isolado, o trabalhador sente-se fraco: cala-se com um copo de vinho; trai os seus interesses e dos seus companheiros. Tanto assim é que, mesmo na «praça», os capatazes ou os patrões estão sempre a puxar homens menos firmes para a taberna ou para a conversa à parte a fim de abrirem brechas na unidade dos trabalhadores.

Eis um exemplo claro da utilidade das «praças»: Numa certa localidade em que a «praça» vigorava há pouco tempo, uns 4 trabalhadores ajustaram preços e hora de «ferra» diferentes daquilo que estava em vigor. Na manhã seguinte, na «praça», os companheiros deram por falta deles, souberam do caso, e ameaçaram ir buscá-los a bem ou a mal. Tanto bastou para que os outros anulassem o contrato e regressassem `«praça». Foi esta, portanto, que despertou nos 4 camponeses a noção da solidariedade no trabalho, a consciência da unidade da classe. Unidade esta, que está bem patente no hábito da «molhadura» -- o vinho que o patrão se obriga a dar a cada homem, após o ajuste – que nenhum trabalhador deve beber antes dos seus companheiros. (A molhadura» é também a garantia do contrato firmado entre as duas partes.) Unidade que tem de se afirmar também, na «praça», quando os patrões querem contratar somente os trabalhadores fisicamente mais fortes, deixando os mais fracos sem ganha-pão, ou oferecendo-lhes jornas inferiores, o que deve ser repudiado pelos companheiros que ainda não desgastaram, como aqueles, a sua orça de trabalho.

Que as «praças de jornas» funcionem todos os dias ou semanalmente aos domingos de tarde ou às segundas-feiras de manhã, isso depende do hábito e da natureza dos trabalhadores agrícolas, embora achemos preferível a «praça» à semana e às segundas-feiras, porque assim os camponeses ficam com os domingos por sua conta, aguentam melhor o nível das jornas e asseguram trabalho por mais tempo. O que mais importa é fazer-se da praça de jornas um baluarte de unidade para a luta dos trabalhadores rurais pelos seus interesses imediatos.

Contribuindo para a unidade dos camponeses assalariados que devem ser a vanguarda da classe camponesa e os mais íntimos aliados dos operários, a praça de jornas contribuirá também para a libertação do povo do jugo fascista. Porque essa libertação só pode conseguir-se inteiramente, por meio da unidade de todas as camadas do povo português na luta diária, económica e política, contra a exploração, a miséria e a incultura impostas pelo Estado Corporativo.

III

No entanto, não basta lançar a palavra de ordem de formação de novas «praças» e defesa das que existem. É preciso organizar as praças de jornas para a luta. Sem organização, pode vigorar a «praça», pode haver espírito de unidade entre os camponeses, mas essa unidade não poderá concretizar-se no decorrer das lutas pelas condições de trabalho; tão pouco os camponeses poderão sair vitoriosos e consolidar essas vitórias.

Eis um exemplo entre muitos. Em determinada «praça», um trabalhador consciente e de prestígio era quem dirigia o ajuste e dava sinal para beber a molhadura. Mas porque não tinha inteiro apoio e estava sozinho a manter a frente dos trabalhadores na «praça», sucedia que sempre alguns companheiros lhe estragavam o ajuste, aceitando jornas mais baixas. Por sua vez, os patrões tentaram peitá-lo: oferecendo-lhe jornas mais elevadas, que ele merecia, mas que recusou porque era um homem honesto, um defensor da sua classe, enfim: um comunista. Apesar disso, não conseguiu assegurar a unidade dos trabalhadores nem as jornas altas, senão quando guiado pelo Partido Comunista a que aderiu, organizou de comum acordo uma «Comissão de praça» para dirigir as lutas.

O que é então uma «Comissão de praça»? É uma Comissão de Unidade dos Camponeses Assalariados, composta por 4 ou 8 ou até mais elementos (conforme o número daqueles que vão à «praça»), nomeados por todos ou pela maioria como os mais honestos, mais firmes e mais combativos, capazes de unir os seus companheiros na «praça». Trata-se, pois de uma comissão idêntica às Comissões de Unidade dos operários nas fábricas, oficinas, etc., e de modo idêntico formada por trabalhadores de várias tendências políticas e religiosas, mas defensores dos interesses dos seus companheiros de trabalho. O que não proíbe, antes obriga, a que façam parte dessa Comissão um ou mais elementos das organizações antifascistas locais (MUD ou Unidade Nacional), especialmente um ou mais elementos do Comité Local do Partido Comunista, o grande Partido das massas trabalhadoras.

Quais as tarefas que competem à Comissão de praça? Fundamentalmente, a Comissão tratará de todas as condições de trabalho dos camponeses em «praça»: ajuste de salários ou jornas; modo de execução de certos trabalhos; horário de trabalho (hora de «ferra» e «desferra»); hora de sesta; dia de «praça»; quantidade de «molhadura».

Para o bom desempenho das suas atribuições, a Comissão de praça manterá estreito contacto com as massas camponesas, a fim de saber a tempo as suas disposições e garantir o seu apoio.

Mas isto não basta. Visto que a «praça» é um campo de luta de interesses opostos, entre elementos de classes opostas (trabalhadores e patrões); visto que os patrões também se unem para a luta na «praça» apoiando-se, por vezes, nas autoridades fascistas, sairá vencedor quem usar de melhor táctica. Queremos dizer, que a Comissão deverá estudar a situação da luta diária ou semanal, e saber quando deve recuar ou avançar, em defensiva ou ofensiva. Assim, estudando a natureza dos trabalhos em curso (cavas, podas, etc.), ou a urgência do patronato devido ao estado do tempo (sulfatagem ou curas, consertos de valados), ou a falta de braços em períodos de trabalho intensivo (ceifas, vindimas), a Comissão tentará um aumento nas jornas --prepara uma ofensiva. Estudando a falta de trabalho no campo ou a concorrência da maltesia (gaibéus e ganhões), a Comissão evitará que as jornas desçam muito e depressa – prepara uma defensiva. Ofensiva e defensiva que se podem dar ao mesmo tempo, como por exemplo: sabendo-se que no fim da sementeira haverá crise de trabalho, a Comissão de praça força a subida das jornas no começo da faina.

Tudo se resume à unidade e acção organizadas: acção da Comissão de praça e unidade dos camponeses na «praça» e nos ranchos.

IV

É evidente que, para levar avante tão sérias tarefas, a Comissão de praça deverá ser permanente, isto é, manter-se sempre como organismo dirigente de «praça» mesmo quando não haja motivos de luta.

Também a experiência ensina que a Comissão deverá ter carácter legal, isto é, ser conhecida e aceite pelo patronato. Todavia, não convém que a maioria dos seus elementos seja individualmente conhecida como dirigente da «praça». Evitar-se-ão, assim, as represálias dos patrões sobre este ou aquele elemento da Comissão, ou mesmo a violência das autoridades, em casos de luta mais acesa.

Mas então --- pergunta-se --- como deverá actuar a Comissão de praça? A actuação dependerá das circunstâncias, conforme o objectivo da luta, o número de camponeses em «praça» e a força da unidade. De modo geral, se o objectivo é as jornas, a Comissão combina em conjunto, depois de conhecer a opinião nos ranchos, qual a jorna que se deve exigir. Em seguida, lança a palavra de ordem, por boca ou por escrito nas paredes, tal como: «Amanhã a praça deve sair a 30$00.» Finalmente, na «praça», depois de «aberto o preço» pelos capatazes, cada elemento da Comissão «aguenta» um grupo de companheiros na defesa da jorna combinada.

Em certa «praça» experiente e unida, a Comissão tem mesmo «brigadas de choque» para resistirem à guarda republicana quando chamada pelos patrões fascistas, e também para dominarem os trabalhadores vendidos ao patronato, quando os há. (Aí, a luta pelas jornas chega a demorar até à 1 hora da madrugada e a provocar tumultos). No entanto, é pelos bons exemplos e boas palavras, não pela força, que se consegue e deve convencer os trabalhadores vendidos, individualistas e inconscientes.

Mas várias «praças» há, a que não vão apenas homens: vão também mulheres. E estas merecem maior organização e solidariedade, quer pelo seu atraso geral quer porque substituem os homens em alguns trabalhos, ganhando por metade daqueles, o que só beneficia os patrões.

A mulher sofre mais do que o homem as injustiças sociais; tem actuado vivamente nas lutas contra o fascismo; e desempenhará papel importante, ao lado do homem, na construção da sociedade futura. No entanto, os trabalhadores do campo e da cidade não têm tido em devida conta as condições de vida das mulheres, sem as quais não é possível a completa emancipação das classes proletárias. Somente nós, comunistas, consideramos a mulher uma companheira no trabalho e uma camarada na luta.

É preciso organizar as camponesas na «praça», ainda que as jornas das mulheres estejam, até certo ponto, dependentes das jornas dos homens e até por isso mesmo, pois não é justo que, em trabalho igual, a mulher ganhe quase sempre por metade do homem.

Mas como organizá-los? Deverá formar-se uma Comissão de praça mista, composta de homens e mulheres, ou deverá formar-se uma Comissão feminina, ao lado da Comissão masculina? Melhor seria que as Comissões de praça fossem mistas, para que as mulheres, de permeio com os homens, ganhassem mais força de acção e experiência. Mas, porque as «praças» são distintas, embora funcionem no mesmo local, é preferível a formação de Comissões de praça femininas, às quais competem as mesmas tarefas das Comissões de praça masculinas.

A organização das camponesas assalariadas é tarefa difícil, mas não impossível. Cumpre às Comissões de praça dos homens; cumpre aos pais, aos maridos, aos namorados das camponesas, orientá-la e organizá-las na luta diária pelos seus interesses e na luta geral pelos interesses da classe.

V

Também a organização dos jovens camponeses deve merecer especial cuidado às Comissões de praça. Se, em geral, os jovens que vão às «praças» lutam como os adultos e são contratados nas mesmas condições, casos há em que estão sujeitos a piores jornas embora realizem os mesmos trabalhos, como sucede com as mulheres.

De todo o modo, cumpre às Comissões de praça mobilizar e unir os jovens para a luta por melhores condições de trabalho, aproveitando o seu entusiasmo, o seu espírito combativo; cumpre-lhes transmitir aos jovens, aos «homens de amanhã», a sua experiência de luta pela vida no campo e nas «praças». Portanto, devem os trabalhadores adultos, ao nomearem as suas Comissões, incluir nelas, sem receio, dois ou mais representantes da juventude.

Por sua vez, os jovens camponeses não se limitarão a estar representados nas Comissões de praça. Em cada localidade, os jovens devem ter a sua organização própria, aberta a todos os rapazes e raparigas de todas as profissões e dirigida por UMA AMPLA COMISSÃO JUVENIL e legal, à qual compete tratar dos interesses e aspirações da juventude da sua localidade, respeitante ao trabalho, à cultura e ao desporto. Comissão essa, dividida em secções que terá os seus delegados camponeses na Comissão de praça (secção de trabalho), assim como nas colectividades recreativas e desportivas (secção de cultura e desporto), muito especialmente nas Casas do Povo.

Isto significa que os jovens trabalhadores eleitos para as Comissões de praça, tanto podem ser o ponto de partida para a formação daquela ampla Comissão local que eles próprios devem organizar nos pequenos meios rurais, como podem ser os delegados dessa Comissão legal, quando ela já exista.

Quais as tarefas fundamentais que competem aos jovens camponeses organizados na «praça de jornas»? É seu dever contribuir para a unidade camponesa na «praça» e nos ranchos; prestar solidariedade aos seus companheiros de trabalho; animar as jovens camponesas para a luta organizada dentro da sua «praça»; exigir sempre, PARA TRABALHO IGUAL, JORNA IGUAL à dos adultos; defender, junto da direcção das Casas do Povo, os interesses da juventude, nomeadamente, o direito de sócio para jovens trabalhadores com menos de 18 anos; e atrair as massas juvenis para a Casa do Povo, realizando aí tarefas progressivas, tais como: cursos nocturnos para analfabetos, récitas de teatro e concertos musicais, festivais desportivos.

A unidade e acção dos jovens trabalhadores rurais, ombro a ombro com os homens, na luta contra o fascismo, serão a garantia segura da conquista dum futuro melhor para a classe camponesa.

VI

O conhecimento das condições de trabalho nas outras «praças» da região é factor importante para uma Comissão de praça. Mas ainda: em certas povoações, só o entendimento com as Comissões de praça vizinhas pode assegurar boas condições de trabalho nessas povoações. E porquê? Porque as jornas, a hora da «ferra», etc., numa «praça», influenciam as condições em vigor noutra «praça» vizinha porque os lavradores duma povoação podem ir buscar trabalhadores em melhores condições a outra povoação.

Nestas circunstâncias, há que estabelecer a unidade camponesa entre as praças de jorna duma área, por intermédio das Comissões, que manterão contacto entre si. Melhor será formar uma «Comissão Regional de Unidade» para coordenar a luta dos camponeses nas “praças” dessa área, e composta por um ou mais delegados de cada Comissão de praça.

Evoluindo de locais para regionais, as Comissões de praça fazem alastrar e enraizar mais o movimento de Unidade, entre os camponeses assalariados.

Também, na medida em que as prestigiam e consolidam, as Comissões deverão alargar a actividade para fora das «praças», interferindo em todos os sectores da vida social que diga respeito à classe camponesa da sua localidade, tais como: racionamento, melhoramentos locais, direcção da Casa do Povo, eleições gerais.

Num recente movimento de massas por maior racionamento de pão, no qual as mulheres tiveram acção preponderante, foram as Comissões de praça que dirigiram a luta em várias localidades. E em Outubro-Novembro de 1945, durante a campanha eleitoral, houve Comissões de praça que aderiram ao movimento de Unidade Democrática, na qualidade de «comissões profissionais». Actuaram assim como verdadeiros Comités de Unidade, representativos de toda a classe camponesa local. E isto é uma evolução das Comissões de praça, num sentido mais amplo e progressivo.

Entre todos aqueles sectores de actividade camponesa relacionados com a Comissão de praça, são as Casas do Povo que, pela maior importância social, exigem mais atenção. E vejamos porquê.

As Casas do Povo têm por fim (artigo 5º dos estatutos-modelo) representar os trabalhadores inscritos como sócios efectivos, no estudo e na defesa dos seus interesses económicos e sociais; desenvolver a assistência e a previdência, pelo auxílio em casos de doença, desemprego, invalidez e velhice; cooperar no ensino aos adultos e às crianças; realizar melhoramentos locais. Ao abrigo destas disposições -- fazendo cumpri-las – os camponeses podem e devem realizar uma obra social importantíssima para a sua classe e para a população camponesa em geral. Por outro lado, sendo a Casa do Povo um organismo misto de trabalhadores e lavradores, é na Casa do Povo que melhor se pode formar a unidade antifascista, o entendimento das grandes massas rurais (trabalhadores, rendeiros e médios proprietários) exploradas pela organização corporativa e interessadas, pois, na sua destruição.

É claro que a Casa do Povo também é uma instituição corporativa apesar dos seus fins sociais, não substitui as antigas Associações de Classe dos trabalhadores rurais. É claro também, que ao Estado Salazarista não interessa cumprir, em benefício dos trabalhadores, as obrigações estabelecidas nos estatutos das Casas do Povo. O Estado Salazarista usa demagogia mais refinada: promete facilmente, mas não dá de boa mente. No entanto, e por isso mesmo, é necessário que os camponeses tomem posse das Casas do Povo, das «suas Casas».

De que modo? Estudando os estatutos e fazendo pressão sobre os actuais dirigentes, para que ponham em prática as regalias instituídas. Exigindo eleições livres nas Casas do Povo, dentro do prazo. Substituindo, com o seu voto, os dirigentes inactivos e traidores por camponeses leais e activos, nos cargos de Direcção. Finalmente, convencendo os lavradores honestos a que substituam os agrários fascistas, nos lugares da Mesa da Assembleia Geral.

Eis aqui a grande tarefa das Comissões de praça, como dirigentes que são das massas trabalhadoras do campo, para que estas sigam na peugada dos seus irmãos proletários --- os operários --- que já conquistaram e transformaram, em seu proveito muitos sindicatos fascistas. Até mesmo porque, sem a posse das Casas do Povo pelos camponeses, as vantagens conseguidas nas praças de jornas podem ser anuladas de um dia para o outro, com os contratos colectivos de trabalho impostos pelos dirigentes das Casas do Povo ao serviço dos patrões. E este perigo será evitado, desde que os contratos colectivos sejam feitos e postos em prática com a participação dos legítimos representantes dos trabalhadores.

Além de tudo, os camponeses têm de desenvolver o seu espírito associativo: criar os seus organismos colectivos de direcção e aprender a resolver os seus próprios problemas; para que amanhã, morto o fascismo, venham a ter um lugar digno na Comunidade Nacional.

VII

Nesta altura, haverá pessimistas que perguntem:

--- Tudo isso está muito certo, mas se o patrões não quiserem pagar as jornas mais altas que irão fazer os camponeses? Trabalhar… Pois.


A esses pessimistas responderemos com outra pergunta: --- E se os camponeses não quiserem trabalhar por tais jornas, que irão fazer os patrões? Trabalhar… não.

Se é certo que os camponeses têm de trabalhar para viver e que os patrões podem viver sem trabalhar, não menos certo é que os trabalhadores rurais têm meios de defesa próprios, o melhor dos quais é a sua unidade de acção --- «todos por um e um por todos».

Mas a um outro meio de defesa nos queremos referir. É às «Caixas de Solidariedade» ou «Caixas de Resistência», criadas pelos operários, mas ainda desconhecidas pelos camponeses.

O que são, como funcionam, e a que se destinam?

Chama-se Caixa de Solidariedade a associação legal de quaisquer trabalhadores, em número não superior a 20 (quando superior, são obrigados por lei a estatutos), que se quotizam de comum acordo, com o fim de se auxiliarem mutuamente ao fim de certo tempo e em determinadas circunstâncias (doenças, falta de trabalho), e dirigidas por um secretário um tesoureiro escolhidos entre os 20 sócios.

Que vantagens oferecem essas Caixas, em relação às praças de jornas? Estabelecidas por vários grupos de 20 camponeses, com o fim de auxiliarem os sócios sem trabalho e ligadas entre si pela Comissão de praça (esta ligação deveria ser secreta, porque contraria a lei), as Caixas de Solidariedade poderiam fortalecer a resistência dos camponeses, em casos de conflito com os patrões, pois que os seus fundos iriam auxiliar os sócios que, por tal motivo, deixassem de trabalhar durante um ou dois dias, ou mesmo uma semana.

Queiram os camponeses assalariados fundar Caixas de Resistência, que não faltarão camaradas experientes para lhes ensinar em pormenor as regras de funcionamento de tais Caixas. «Querer é poder» --- e os camponeses podem e devem fundá-las.

VIII

Neste esboço sobre a maneira como utilizar as praças de jornas ou praças de trabalho no Movimento de Unidade Camponesa para o derrubamento do fascismo, reportamo-nos a um tipo de Comissões de Unidade: as «Comissões de praça».

Não obstante, algumas normas indicadas poderão aproveitar às Comissões camponesas de outro tipo.

Trabalhar pela formação de Comissões de Unidade camponesa ---Comissões de Praça, Comissões Locais, Comissões de Herdade, Comissões de Rancho --- com objectivos definidos, é dever de todos os lutadores antifascistas, é dever de todos os camponeses conscientes.

Soeiro Pereira Gomes

Agosto de 1946

















domingo, 8 de janeiro de 2012

TERNURA

TERNURA

A REVOLTA É UM PÁSSARO VERMELHO GERADO NO CORAÇÃO DOS OPRIMIDOS. CANTA A TERNURA ONDE AMANHECE E FLUI NAS ASAS DO FUTURO.