sábado, 20 de julho de 2013

A ACTUALIDADE DE “OS VAMPIROS”

Esta jóia do reportório do Zeca Afonso irá, infelizmente, servir de estímulo e instrumento de luta a muitas gerações.

O que o inspirou? “A fauna hipernutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório. Descarreguei a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas “Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho (…). Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a intenção que orientou a génese de Vampiros”. De uma entrevista a José Afonso.

50 anos passados “a fauna hipernutrida” continua a “chupar o sangue da manada”.

Vampiros

José Afonso

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as
asas Pela noite calada
Vêm
em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E
lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]
A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam
nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no
ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as
tulhas Bebem vinho novo
Dançam a
ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os
gritos Na noite abafada
Jazem
nos fossos Vítimas dum credo
E
não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E
lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

2 comentários:

Pata Negra disse...

Se não me falha a memória ouvi pela primeira vez esta canção em Julho de 73 e foi numa festa de final de ano dum seminário diocesano. O facto diz alguma coisa.
Um abraço ex-seminarista

Graciete Rietsch disse...

E pelos vistos continuará!!!

Um beijo.